O estóico torcedor boliviano


 Vitória 1 x 0 Sampaio

 
            Existe um certo tipo que habita a torcida do Sampaio que é o que mais me intriga, o estóico torcedor boliviano. Quando se trata de jogar a série B do campeonato brasileiro então, não há ser humano mais resignado quanto ao seu cruel destino imediato.
            Retrocedo um pouco. Lembro que em 2014 levei um grande amigo para ver a estréia do Sampaio na série B contra o Paraná Clube, no Castelão. O time não jogava o campeonato desde o início dos anos 2000 e a torcida estava em estado de graça devido aos acessos consecutivos nos dois anos anteriores, da série D à B. Meu amigo, boliviano de ocasião, inclusive. Pois bem, bastou o jogo começar e o time levar um gol nos primeiros minutos para toda a euforia prévia virar um suco de frustração. Quando levou o segundo gol, meu amigo sentenciou taciturno, “esse ano a gente vai brigar pra não cair”. Nos dias seguintes, na padaria, no boteco, no churrasco, na festinha de criança só se falava a mesma coisa, “esse ano a gente vai brigar pra não cair”. Os mais exaltados acrescentavam, “tomara que a gente não caia com vexame”. Nosso destino já estava traçado desde os primeiros minutos daquele Paraná x Sampaio, restava o abraçarmos resignados e satisfeitos.
           Não caímos naquele ano e vou te dizer, com aquele time quase deu pra subir pra série A. Ano vai, ano vem, a história se repete. O estóico torcedor boliviano, acostumado, de fato, às vitórias sofridas, sempre desconfia do futuro e aceita de antemão o desastre. Se está ganhando de 1 a 0, a derrota é iminente e ele já está conformado. Se o time está vencendo de 3 a 0 e toma um gol, o estóico torcedor boliviano senta resignado e aguarda o empate do adversário, quiçá a virada. O estóico torcedor boliviano só perde em resignação para o pessimista torcedor maranhense que é aquele que sempre profere a plenos pulmões, “esses times daqui nenhum presta, são só perder”.
Pois bem. Preparei-me adequadamente para assistir ao jogo de estréia na Série B de 2020, Vitória-BA x Sampaio, separei um Glenfiditch 15 anos para a ocasião especial e por combinar com a noite fresca que fazia no sábado, coisa rara no agosto ludovicense. A  partida, como sói ocorrer nesses tempos bicudos de pandemia da Covid-19, foi realizada a portões fechados e sem o duvidoso recurso de usar o sitema de som do estádio pra simular gritos da torcida, mas tampouco foi um jogo ruim, como seria de se esperar numa estréia de série B. O Vitória foi pro abafa logo no início do jogo até conseguir um penalti besta e marcar seu 1 a 0. Dali adiante, só deu Bolívia apesar de os comentaristas baianos da TV e do rádio enxergarem outro jogo totalmente diferente em que o Sampaio não jogou, mas o Vitória deixou jogar. Enfim, engula-se.
        E como o Sampaio perdeu gol. Foram pelo menos quatro chances claras de empatar que esbararram no goleiro do Vitória ou na imperícia da finalização. E a cada gol perdido aquele mesmo amigo lá de 2014, tal qual o corvo de Edgar Alan Poe, me mandava uma mensagem, “esse ano a gente vai brigar pra não cair”. Pelo sim, pelo não, eu não sei. Acho até que o time jogou bem e que o técnico Léo Condé já deu uma arrumada na equipe, que tá se exibindo melhor do que no começo do campeonato maranhense, pré-covid. De qualquer modo, o resultado já estava feito. Só me restou sentar cá com meu uísque e replicá-lo também por mensagem, nevermore, nevermore.

 


 

 

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