Céu vermelho
Imperatriz 0 X 1 Sampaio
Era no tempo da peste.
Talvez assim os escritores do futuro se refiram ao período atual em que
vivemos. Tempos bicudos, bicudíssimos, mas por ora tratemos apenas do futebol,
mais precisamente do retorno dos jogos pelo país afora e, notadamente, do mais
brioso dos torneios estaduais, isto é, o Campeonato Maranhense, que esse ano
está na sua centésima edição. Parabéns, ora pois.
Parênteses ligeiro,
cabe destacar que há tempos abandonamos as fórmulas de disputa com lógica
peculiar, em que haviam quadrangulares de hexagonais para definir as
triangulares finais. Há de se reconhecer que o campeonato foi enxugado nos
últimos anos, resumindo-se ora ao formato de grupos, seguido de mata-mata, ora
aos pontos corridos, seguidos de mata-mata. Deixemos a falta de lógica aos
cariocas e seu torneio em que o campeão de dois turnos pode não ganhar o
campeonato.
Voltando ao que
interessa, Imperatriz e Sampaio se enfrentaram no sábado, 01 de agosto, no Frei
Epifânio D´Abadia, na gloriosa cidade de Imperatriz/MA, pela 4ª rodada do
campeonato que havia sido anteriormente adiada. Era o retorno do futebol às
minhas tardes de sábado e nada mais justo do que celebrar assistindo à partida
tomando umas boas doses de um talisker 10 anos, levemente esfumaçado e seco,
como um fim de dia no interior.
A partida, em si, foi
um teste supremo para a paciência e o bom gosto futebolístico, um jogo tão
emocionante quanto uma corrida de kombis. Não me leve a mal, gosto do classico
Sampaio X Imperatriz, sempre rende bons duelos, mas uma coisa é assistir ao
jogo no Castelão, ou melhor ainda, no Nhozinho Santos, tomando uma Devassa
gelada e fumando um carlton ao ar livre, outra é assistir pela TV um estádio
sem público, com dois elencos recém montados e com um entrosamento de escola de
samba japonesa devido às poucas semanas se treinamento. Houve esforço, sobrou
bate canela no meio de campo e na oportunidade que teve a Bolívia meteu um
protocolar 1 a 0, com gol de Roney aos sete minutos do segundo tempo, a outra
única chance do jogo veio numa cabeçada de Matheus Lima dentro área; o goleiro
João Gabriel trabalhou bem umas duas ou três vezes também e foi só.
Fora o arranca toco
disputado por pouco mais de noventa minutos, o personagem do jogo tava no além
horizonte, o único momento bonito dessa tarde simbólica, o céu vermelho sangue
que surgiu lá pelos 30 minutos do primeiro tempo e bem que poderia ter sido
mais focado pelas câmeras da FMF, não ia fazer mal. Parenteses número 2, lembro
de um Sampaio x Treze da Paraíba pela série D de 2014 em que o jogo tava tão
sem sal que os comentaristas da TVE começaram a debater qual era o maior São
João do Mundo, se o de Caruaru ou o de Campina Grande.
Enfim, um céu de filme
de samurai, convidativo para uma cerveja à beira da Beira-Rio imperatrizense,
quem sabe acompanhado de um tucunaré na brasa e bastante prosa sobre tempos
idos.
Vez por outra no
estádio, mais ou menos naquele mesmo horário, fim do primeiro tempo, às vezes
início do segundo, dá pra sentir essa mesma melancolia coletiva de fim de
tarde, compartilhada entre platitudes sobre o jogo ali à frente. São alguns
minutos de sensação de pertencimento, de que dali adiante vai ser domingo e que
tudo está no seu lugar, graças a Deus. O fim de tarde num estádio de futebol é
um estado de espírito e depois de um tempo longe disso e sem qualquer
perspectiva de quando teremos público em campo, ver seu time jogando de novo,
numa partida ruim de doer, mas com um fim de tarde esplendoroso, traz um
conforto morno, um sentimento de que apesar de ser no tempo da peste, tudo vai
voltar pro seu lugar, se Deus quiser.
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